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Resumos

Resumo

Rooney Figueiredo Pinto (Faculdade de Psicologia e Ciência da Educação da Universidade de Coimbra | GRUPOEDE/CEIS20-UC)

Histórias e memórias da escola do tempo do Estado Novo em Portugal. Um olhar a sob a perspetiva da sociodinâmica de Moles e da memória social de Halbwachs

A sóciodinâmica surge no âmbito dos estudos da socionomia e da sociometria, exploradas nas investigações de Moreno, Moles e Fauvet entre os anos 30 e 70 do século XX.  Numa linha mais durkheimiana, entre os anos 30 e 40, Halbwachs estrutura conceptualmente as dinâmicas sociais da memória nas esferas individual e coletiva, tornando-se numa das principais referências para o estudo da memória social.

Neste trabalho, assumimos a tese de que a memória social da escola é sóciodinâmica e a recordação reflete um movimento mnemónico sócio-espaço-temporal dos eventos biográficos em seus mais diversos diálogos e perceções individuais e coletivas. Uma compreensão que combina as bases teóricas da memória social e da sociodinâmica.

Como parte de uma investigação em desenvolvimento mo âmbito da memória social da escola numa perspetiva sóciodinâmica, propomos reflexões em torno das seguintes perguntas: Como a memória do tempo da escola se manifesta? O que é recordado e como esta recordação é apresentada? Que recordações emergem com mais ou menos frequência e que significados são atribuídos no discurso de quem recorda? Que ajustes temporais ou comparativos são feitos na narrativa e denunciam um diálogo entre o passado e o presente na memória social da escola?

Apoiados nos trabalhos de Halbwachs (1994), Namer (1987), Ricoeur (2004), Connerton (1993), Changeux & Ricoeur (2001), Bergson (2012), Le Goff (2000), Fentress & Wickham (1994), Candau (2013), Baddeley, Anderson, & Eysenck (2011), Popper (2018), Moreno (1934), Moles (1971), Fauvet (1996) entre outros, recorremos a análise qualitativa no tratamento dos dados coletados em entrevistas semiestruturadas aplicadas em 2017, com recurso aos testemunhos e análise das narrativas de professoras que deram aulas no período do Estado Novo em Portugal.

Através das narrativas das professoras foi possível verificar que as recordações da escola privilegiavam os contextos económicos e sociais comparando o tempo vivido com o tempo presente. Os elementos iconográficos do regime na sala de aula e nos materiais ou no dia-a-dia das pessoas se manifestam como parte de um imaginário coletivo do Estado Novo. Revelaram-se nas recordações um discurso e julgamento social ajustado ao contexto atual, condenando e distanciando-se do contexto do regime. Por outro lado, as recordações associadas ao termo “autoridade” surgem em tom paradoxalmente nostálgico, muitas vezes fazendo uso de uma narrativa romântica e saudosista acerca do tempo do Estado Novo, comparando o prestígio e respeito que as professoras tinham antes com contextos atuais. Ainda que o discurso condene o regime, e lamente o contexto social e económico da época, as narrativas insistem em evocar recordações positivas que se sobrepõem às negativas. Passado e presente são comparados na máxima do “antes não era assim”, nomeadamente quando referem a autoridade do professor daquele tempo em comparação ao tempo presente.

Estes elementos, permitem-nos concluir que a memória da escola do tempo do Estado Novo revela uma dinâmica social que transita entre o espaço, o tempo e seus contextos históricos e sociais. Ao mesmo tempo que as recordações revelam significados positivos e negativos em constante diálogo do passado com o presente através de uma narrativa sociodinâmica dos eventos biográficos vividos ao mesmo tempo que contribui para uma melhor compreensão da memória social da infância, da família e da escola.

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