Justino Magalhães (Instituto de Educação da Universidade de Lisboa)

A pesquisa sobre manuais escolares em Espanha e Portugal – (o caso da base de dados MANES)

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No Prefácio de Didascalicon. A Arte de Ler, publicado no século XII, o autor Hugo de São Victor, escreveu:             “Existem principalmente duas coisas por meio das quais uma pessoa adquire conhecimentos, ou seja, a leitura e a meditação. Destas, a leitura detém o primeiro lugar na instrução”. Na sequência, propôs-se abordar as regras da leitura. Volvidos mais de setecentos anos, em 5 de maio de 1879, Jules Ferry, Ministro francês da Instrução Pública, proclamava diante da Comissão de Exame dos Livros Clássicos, que “celui qui est maître du livre est maître de l’éducation”. Dez anos mais tarde, o manual escolar foi tornado obrigatório, nas escolas de instrução primária de França.

Efectivamente, a história da leitura está intrinsecamente associada à história do livro e como comprovam os estudos de Jean Yves-Mollier (2001), na fase final do século XIX, a edição do manual escolar cresceu exponencialmente, constituindo núcleo e fomento de uma cultura de massas. Num mundo dominado pela cultura escrita, as regras da leitura haviam-se tornado regras de vida, na intelecção da realidade, na busca da informação, no discernimento crítico, na construção de pensamento próprio, na capacidade de argumentação. E, nesta matriz de cognição e busca de sabedoria, a cultura escolar foi iluminação, disciplina, representação, estando o livro, particularmente o livro escolar, na base da cultura e do institucional escolar. O livro escolar constitui, por consequência, a razão da razão. Na minha comunicação, proponho-me dar substância e consequência a este pensamento, através de uma abordagem histórico-pedagógica do livro e da cultura escolar. Apresentarei por fim as principais linhas da historiografia do livro escolar e procurarei integrar as bases de dados dos manuais escolares, nomeadamente a Base Manes.